Os Limites do Crescimento
Um relatório para o projeto do Clube de Roma sobre a difícil situação da humanidade
Em meados de 1972, uma equipe de 17 pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts realizou um estudo sobre as implicações decorrentes do contínuo crescimento global. Eles avaliaram cinco grandes tendências de preocupação: industrialização acelerada, rápido crescimento populacional, produção agrícola, esgotamento de recursos não renováveis e deterioração do meio ambiente.
Através de uma série diversificada de testes utilizando o modelo de simulação computacional chamado "World3", eles analisaram cenários alternativos sobre o futuro da humanidade. Os resultados, por sua vez, foram sempre os mesmos: caso as tendências de crescimento populacional mundial e das demais áreas mencionadas não fossem contidas, o resultado previsto seria um colapso global nos próximos cem anos. Embora o modelo utilizado não forneça informações precisas devido à limitada disponibilidade de informações na época, fornece uma perspectiva fundamental sobre as limitações do crescimento em nosso mundo finito. "Não é possível crescer para sempre em um ambiente limitado".
A publicação do livro "The Limit to Growth" completa agora 50 anos e, de acordo com suas premissas, restariam apenas mais 50 anos até o possível colapso, uma vez que algumas de suas previsões sobre o crescimento exponencial da população têm sido consistentemente confirmadas. Diante disso, decidi fazer um breve resumo para instigar você a ler o livro e compreender suas principais preocupações.
Os Limites do Crescimento
Na circunferência de um círculo, o início e o fim são comuns.
Heraclitus, 500 A.C.
Praticamente todas as ações humanas, desde o uso de fertilizantes até o desenvolvimento urbano, podem ser representadas por curvas de crescimento exponencial. Seja a população, a produção de alimentos, a industrialização, a poluição ou consumo de recursos naturais não renováveis, todos obedecem a um padrão de crescimento exponencial.
O perigo surge na interação contínua entre esses elementos. As populações não podem crescer sem alimentos, a produção de alimentos aumenta pelo crescimento do capital, mais capital requer mais recursos, os recursos descartados tornam-se poluição, a poluição interfere no crescimento da população e na produção dos alimentos. Caso essas tendências de crescimento continuarem inalteradas, os limites do crescimento neste planeta poderão ser alcançados, resultando em um declínio súbito e incontrolável tanto na população como na capacidade industrial.
Mas o que é necessário para sustentar o crescimento econômico e populacional? A lista dos ingredientes necessários é longa, mas pode ser dividida aproximadamente em duas categorias principais:
A primeira categoria inclui as necessidades físicas que sustentam toda a atividade fisiológica e industrial - alimentos, matérias-primas, combustíveis fósseis e nucleares e os sistemas ecológicos do planeta que absorvem resíduos e reciclam substâncias químicas básicas importantes. Esses ingredientes são, em princípio, itens tangíveis e contáveis, como terra arável, água doce, metais, florestas e oceanos.
A segunda categoria consiste nas necessidades sociais. Mesmo que os sistemas físicos da Terra sejam capazes de suportar uma população muito maior e mais desenvolvida economicamente, o crescimento real da economia e da população dependerá de fatores como paz e estabilidade social, educação e emprego e progresso tecnológico constante.
Essas duas categorias indicam que alimentos, recursos e um ambiente saudável são condições necessárias, porém não suficientes, para sustentar o crescimento econômico e populacional. Mesmo quando esses elementos são abundantes, o crescimento pode ser travado por problemas sociais.
Entretanto, o ponto de preocupação reside no fato de que todos os elementos da categoria 1 são recursos finitos. Um exemplo claro é o recurso fundamental para a produção de alimentos: a terra. Naquela época, os estudos indicavam a existência de, no máximo, cerca de 3,2 bilhões de hectares de terras potencialmente adequadas para a agricultura em todo o planeta. Aproximadamente metade desse território, composta pelas áreas mais férteis e acessíveis, já estava em uso para atividade agrícola.
E o que acontece com os metais e combustíveis extraídos da terra depois de utilizados e descartados? De certa forma, esses elementos nunca são verdadeiramente perdidos. Os átomos que os compõem são reorganizados e, com o tempo, são dispersos em uma forma diluída e inutilizável pelo ar, solo e nas águas do nosso planeta. Entretanto, quando esses efluentes são liberados em uma escala considerável, os mecanismos naturais de absorção podem atingir seu limite de saturação.
Esta ignorância sobre os limites da capacidade da Terra para absorver poluentes deveria ser motivo suficiente para cautela na liberação de substâncias poluentes.
Alguns poluentes estão diretamente ligados ao crescimento populacional (ou às atividades agrícolas, ligadas ao crescimento populacional), enquanto outros estão mais associados ao desenvolvimento industrial e avanços tecnológicos. A complexidade do sistema global faz com que a maioria dos poluentes seja de alguma forma influenciada tanto pela população quanto pela indústria. Além disso, é identificado que esses dois elementos, o crescimento populacional e o crescimento industrial, representam os pontos mais problemáticos no cenário de crise.
O padrão fundamental de comportamento do sistema global é a tendência ao crescimento exponencial tanto da população quanto do capital, seguido por um eventual colapso.
Diante desse cenário, os pesquisadores empreenderam uma série de testes no modelo World3, introduzindo estimativas otimistas sobre os benefícios da tecnologia para conter o crescimento populacional e industrial. No entanto, todos os testes resultaram no inexorável declínio tanto da população quanto da atividade industrial, projetado para ocorrer antes do ano 2100.

Os resultados surgem de um simples fato – a Terra é finita.
Infelizmente, a sociedade moderna não aprendeu a reconhecer e a lidar com essa realidade. Em vez disso, continuam lutando pelo objetivo de produzir mais pessoas, mais alimentos e bens materiais, na esperança de que avanços tecnológicos possam estender a viabilidade do crescimento por um período mais prolongado.
No entanto, a fé na tecnologia como a solução definitiva para todos os problemas desvia a nossa atenção do problema mais fundamental – o problema do crescimento em um sistema finito – e nos impede de tomar medidas eficazes para enfrentá-lo.
Muitos dos desenvolvimentos tecnológicos - reciclagem, dispositivos de controle da poluição, contraceptivos - são absolutamente vitais para o futuro da sociedade humana, mas somente se forem combinados com controles deliberados do crescimento.
Após uma série de testes envolvendo diversos cenários, uma única solução foi encontrada ao equilibrar o crescimento de todos os elementos problemáticos.
Os requisitos para alcançar um estado de equilíbrio global são:
A magnitude do capital e da população permanece constante. A taxa de natalidade iguala-se à taxa de mortalidade, e a taxa de investimento de capital equipara-se à taxa de depreciação.
Todas as taxas de entradas e saídas - nascimentos, óbitos, investimento e depreciação - são mantidas em níveis mínimos.
Os níveis de capital e de população, bem como a proporção entre eles, são definidos de acordo com os valores da sociedade. Esses valores podem ser intencionalmente revisados e ajustados gradualmente à medida que avanços tecnológicos criam novas possibilidades.
Como se pode ver, um estado de equilíbrio não estaria livre de pressões, uma vez que nenhuma sociedade pode estar livre de pressões. Alcançar esse equilíbrio demandaria a troca de certas liberdades humanas, tais como produzir um número ilimitado de crianças ou consumir recursos de maneira desenfreada, por outras liberdades, como a redução da poluição e do superpovoamento, além de evitar a ameaça de um colapso do sistema global.
A decisão de não tomar nenhuma medida para resolver esses problemas é equivalente a tomar medidas energéticas. A cada dia de crescimento exponencial contínuo, o sistema global se aproxima de seus limites finais. Optar por não agir é, de fato, escolher aumentar o risco de colapso. Desta forma, é importante a sociedade reconhecer que não pode maximizar tudo para todos, antes que perca sua oportunidade de escolha.
Depois de 50 anos, o Clube de Roma lançou “Limits and Beyond”, servindo como sequência de “The Limits to Growth”. Esta continuação avalia a precisão dos seus modelos anteriores e examina como a comunidade global respondeu aos desafios descritos no relatório original. Recomendo a leitura! 💚